sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Um velho Buda

Por Flávio Marcondes Velloso

“Conta a lenda que um velho buda, em um tempo muito longínquo, deixou de ser um intocável lama para constituir uma família com uma rameira que havia mexido com o seu coração, a qual tinha ousado puxar o seu manto, na prática da mendicância, quando sua comitiva passava pela cidade...

Esse lama, que ocupava destacada posição na hierarquia monástica, então foi ter com ela uma vida simples... Até que resolveu, assim falhando tremenda e egoisticamente, voltar para o monastério, mesmo que para ocupar um posto de principiante. E de tal sorte o fez, à procura de sua iluminação individual, deixando para trás mulher e filhos...

Inúmeras vidas se passaram, esse velho buda, cuja memória é adorada até os dias atuais com flores e oferendas, um buda da saúde que curava com a força da mente, passou a viver em um outro portal, angélico.

Dessa morada, só saiu quando chamado, por sua velha paixão que lhe batia à entrada, para que a acompanhasse em sua próxima reencarnação... Vislumbrou então a oportunidade de se redimir daquela infeliz passagem terrena, a atitude de ter abandonado uma vez esposa e filhos, e viver agora um grande e puro amor com ela, em plenitude, voltando à Terra, mesmo que sofrendo para tanto um novo atraso espiritual...

E desse modo aconteceu... No entanto, de forma surpreendente, um dia se viu doente e abandonado por essa mesma esposa que ora o deixava com os filhos, partindo, caída em tentações mundanas, em busca de novos prazeres e liberdade... Fazendo-o lembrar, questionar, toda a sua insignificância diante da Obra...

Eis o preço do progresso, na ética de se alcançar iluminação, pois também se deu algo semelhante com Siddharta, príncipe Gautama, o mais famoso dos budas, ao deixar para trás a sua família, embora confortavelmente instalada, para encontrar-se consigo próprio...

Assim, enquanto a maioria perde inadvertidamente a vida tentando alcançar a ‘felicidade’ em caminhos mundanos, o velho buda deixou a sua condição de iluminado, anteriormente conquistada, para sacrificar-se nesse mesmo mundo... Paradoxalmente, muitos perdem a vida simplesmente para morrer, outros perdem-na para verdadeiramente nascer... De que lado nós estaremos?”

Flávio Marcondes Velloso, é professor e escritor membro da União Brasileira de Escritores.
E-mail: marcondesvelloso@itelefonica.com.br / Site: www.filoterapia.com

1 comentários:

FMV disse...

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